Um exemplo de culto bíblico

No decorrer dos séculos, a maneira de o homem pensar e realizar as coisas mudou radicalmente.

No meio cristão, também percebemos muitas novidades, ainda mais se compararmos o cenário atual com o do período inicial da igreja.

Naquele tempo, não havia ministério de dança, banda da igreja, retiro de carnaval, e uma série de outras atividades. Curiosamente a falta dessas coisas não impedia o crescimento exponencial da igreja.

Além da simplicidade do culto, o que hoje pode representar um problema para alguns, aqueles cristãos ainda tinham que conviver com as fortes perseguições que eram realizadas contra a fé cristã.

Então como explicar esse desempenho tão formidável?

A razão óbvia para isso é que a igreja estava sob o controle total da ação do Espírito de Deus. Os apóstolos eram direcionados por Deus, e nos corações dos irmãos havia muito temor. Era essa a situação da igreja em Atos 2:42-47. Ainda de acordo com esse mesmo Livro, o número de cristãos não apenas aumentava, multiplicava.

“Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo.” (Atos 9:31)

Para se ter uma ideia de como era realizado o culto da igreja, em seu momento inicial, o interessado pode ler 1 Coríntios 14. É nesse texto que se encontra a ordenança bastante conhecida “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.”

Porém o exemplo de culto que será objeto desse estudo não se encontra no Segundo Testamento, mas no Primeiro, mais precisamente no livro de Neemias, em seu capítulo 8.

Vamos analisar alguns detalhes que fizeram a diferença naquele dia.

1- O povo estava reunido como se fosse um só homem (Ne 8:1);

Para cultuar a Deus, o povo deve estar reunido e unido no mesmo objetivo. É impossível que todos pensem de igual maneira em todos os aspectos, mas quando estiverem reunidos, isso o farão em nome do Senhor Jesus Cristo, com o objetivo maior de adorar a Deus, na beleza da santidade de Deus.

É realmente necessário que exista o entendimento comum sobre os temas fundamentais da fé e sobre os planos e objetivos mais importantes da comunidade (igreja), pois nenhuma casa subsistirá se estiver dividida contra si mesma (Marcos 3:25).

Por isso, ao surgirem divergências, estas devem ser logo conhecidas (deve haver abertura para isso) e discutidas entre os que já forem instruídos na fé, com o auxílio indispensável do Espírito Santo (Atos 15).

2- O povo ouviu o livro da lei desde a alva (a primeira luz do amanhecer) até ao meio-dia (Ne 8:3);

Isso demonstra o grande interesse que tinham em aprender sobre Deus. O povo que ali se reuniu estava muito interessado em aprender a Palavra de Deus, com sede.

Ocupar um lugar numa congregação não significa coisa alguma, se o coração está longe de Deus (Mateus 15:8). O coração voltado para Deus deseja aprender mais sobre Deus.

3 – O povo colocou-se de pé para ouvir a Palavra de Deus (Ne 8:5);

O povo que se reúne na presença de Deus deve ter reverência à sua Palavra. Durante a leitura da Palavra, devemos ouvir atentamente, pois é Deus que estará falando ao homem.

4- Esdras e o povo louvaram a Deus (Ne 8:6);

O louvor também é uma expressão de gratidão a Deus, e nesse caso por causa da leitura da lei. Eles louvaram (agradeceram) a Deus tão somente pelo fato de poderem ter ouvido a Palavra de Deus! Veja o louvor como agradecimento também em Salmos 117:171.

Mas se o louvor, que pode ser também uma canção, deve ser dirigido a Deus por gratidão, então como alguns estão cobrando para o louvarem? E o que é igualmente ruim, por que alguns pagam para que outros louvem a Deus?

Essa prática é amplamente adotada, porém um erro cometido por muitos não se converte em acerto por causa disso, assim como uma mentira repetida muitas vezes não pode se transformar em verdade. Continua sendo mentira.

Como sempre, uma resposta segura sobre a admissibilidade dessa prática pode ser obtida na Bíblia, mas é evidente que as Escrituras não amparam esse desvio.

5- Enquanto a lei era lida, o povo estava no seu lugar (Ne 8:7);

Durante toda a leitura da Palavra de Deus, o povo permaneceu atento e imóvel, cada um no seu lugar. As pessoas não transitavam desnecessariamente de um lado para o outro, não se ouviam conversas paralelas, não havia qualquer atitude que perturbasse a concentração dos demais. Toda a atenção do povo estava dirigida à mensagem de Deus.

6 – A lei foi lida e explicada de forma que os ouvintes a entenderam (Ne 8:8);

Se Deus não abrir o entendimento do homem, ninguém mais o abrirá (Lucas 24:45). Mas isso não exime o homem de executar um bom trabalho na hora de transmitir o texto bíblico. Pronunciar as palavras de forma inteligível, respeitando a pontuação, em tom e volume de voz agradáveis, ou seja, evitando gritar desnecessariamente ou falar baixo demais, de maneira que não possa ser ouvido, também é fundamental.

Além disso, é impossível explicar algo que não é conhecido, a não ser por milagre. Por isso, o transmissor deve estudar e se preparar com antecedência, a fim de que se faça o melhor.

7 – Após ouvir o livro da lei, todo o povo chorou (Ne 8:9).

É difícil imaginar hoje uma situação parecida, em que toda a congregação chorando, após ouvir a Palavra de Deus, é orientada a parar de chorar. Neemias, Esdras e os escribas pediram ao povo que não chorasse e nem lamentasse porque aquele era um dia consagrado ao Senhor.

Momentos como esse, em que toda a congregação chora de forma unânime, são cada vez mais raros em nossos dias.

Não que hoje os pregadores não estejam preocupados em “induzir” as pessoas ao choro, porém muitos deles alcançam esse resultado com a utilização de técnicas científicas como a programação neurolinguística. É a autossuficiência do homem substituindo cada vez mais o agir de Deus (Apocalipse 3:14-19).

Chorar por emocionalismo é diferente de chorar por arrependimento ou pela alegria de sentir a real presença de Deus.

8 – Após o meio-dia, o povo foi despedido para comer e compartilhar o alimento com os necessitados (Ne 8:10-12);

Quem cultua a Deus deve estar ciente de que o seu compromisso com Deus não acaba após o culto. Assim, o crente deve continuar sendo instrumento de Deus, sendo sal e luz no mundo (Mateus 5:13-16). A ordem para alimentar os pobres foi cumprida pelo povo depois que saíram. Da mesma forma, a ordem que nos for dada pela Palavra também deve ser. Isso significa que não podemos ser apenas ouvintes, mas também praticantes da Palavra, do contrário estaremos nos enganando a nós mesmos (Tiago 1:22).

A igreja deve voltar a ter esse desejo ardente de ouvir a Palavra de Deus, com reverência, sem pressa, coração contrito e quebrantado. Deve voltar ao Evangelho bíblico e abandonar as falsas teologias que estão surgindo, que mais satisfazem o ego humano e suas cobiças do que produzem transformação e frutos de justiça.

Embora o culto seja para Deus, os maiores privilegiados e beneficiados por adorarem a Deus somos nós mesmos, os que o adoramos em espírito e verdade. É que nessa relação entre Deus e o homem, mais ganha o homem por estar perto de Deus do que Deus por estar perto dos homens.

Até o próximo estudo, se Deus assim permitir!

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