Livre arbítrio, eleição, predestinação: dá para conciliar?

O livre arbítrio tem sido definido como a capacidade que o homem tem de escolher entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, e é óbvio, a de sozinho, chegar à conclusão de deve receber o Senhor Jesus Cristo como salvador de sua vida.

O conceito de “livre arbítrio” não se confunde com o de “livre agência ou capacidade de escolha”. Este último aponta para a capacidade que o homem tem de agir espontaneamente e de efetuar escolhas de acordo com aquilo que lhe é agradável, interessante.

Se alguém detesta fazer cálculos complexos, provavelmente “escolherá” uma graduação na área de ciências humanas, e não na de exatas. Assim funciona o princípio da livre agência.

Nesse texto, vamos rebater com tranquilidade a existência do livre arbítrio e defender a existência da eleição e da predestinação (são os opostos do livre arbítrio). A Bíblia nos dá muitas revelações acerca dos assuntos que serão discutidos nesse pequeno estudo.

Para começar, observemos esta referência retirada do Evangelho:

“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” (João 1:11-13)

O “nascer novamente” não depende da vontade humana, nem da carne, mas do próprio Deus. Isso significa que o homem, sozinho, jamais conseguirá nascer novamente, compreender a Palavra de Deus e nem muito menos entender a real necessidade de receber o Senhor Jesus Cristo como o salvador de sua vida. Acerca disso, Jesus nos esclarece:

“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6:44)

O Senhor Jesus achou tão importante dizer isso que no mesmo discurso repetiu isso para o povo:

“E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido.” (João 6:65)

Com base nas referências acima, já não nos restaria dúvida alguma de que o livre arbítrio é mais um engano de homens que não compreenderam corretamente as Escrituras Sagradas. Ninguém pode crer na Palavra de Deus e receber o Senhor Jesus se Deus não conceder isso ao homem.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Efésios 2:8)

O homem natural jamais poderá acreditar na Palavra de Deus, a não ser que Deus lhe conceda a fé para a salvação. Como disse Paulo aos efésios, a fé é um dom (presente) de Deus.

Observe como isso acontece na prática:

“Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do SENHOR?” (Isaías 53:1)

Se o “braço do Senhor” não se manifestar para alguém, ainda que o pregador da Palavra de Deus fale por horas, ele não conseguirá converter o ouvinte. Ainda que escute a pregação da Palavra de Deus, o homem não será capaz de compreender as coisas de Deus de forma espontânea. É necessário que Deus abra o entendimento dos ouvintes:

“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” (1 Coríntios 2:14)

Mesmo os discípulos de Jesus, que já haviam caminhado com Jesus desde o princípio, testemunhando os milagres, ouvindo os sermões e a explicação das parábolas acerca do reino de Deus, mesmo estes ainda precisavam ter o entendimento aberto, para que fossem e pregassem a Palavra de Deus:

“Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras.” (Lucas 24:45)

Jesus disse isso aos discípulos após a sua ressurreição, dentro daquele período de 40 dias que ficou com eles antes de ser elevado às alturas (Atos 1).

Dessa forma, acreditar em livre arbítrio é reconhecer que a carne possui a sublime capacidade de crer em algo que não viu e crer da maneira correta, que é ainda mais importante.

Saulo era um homem muito religioso, zeloso, mas não conhecia a verdadeira fé, por ainda não ter sido chamado pelo Senhor Jesus Cristo. Ele acreditava no Deus de Israel, mas perseguia esse mesmo Deus por causa de suas convicções equivocadas. Em resposta, o Deus de Israel falou para ele:

“Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.” (Atos 9: 5)

O próprio apóstolo Paulo relatou como foi a sua vida (quando ainda era chamado Saulo), antes de conhecer o Senhor Jesus Cristo:

“Porque já ouvistes qual foi antigamente a minha conduta no judaísmo, como sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava. E na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais. Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios (…)” (Gálatas 1:13-16)

Não é o homem que escolhe Deus, mas Deus que nos escolhe. Se você crê assim, então não pode concordar com a existência de livre arbítrio. Existe em algumas pessoas uma predisposição para ouvir o chamado de Deus. No tempo de Deus, após ouvir esse chamado, o homem finalmente será enviado para fazer a vontade de Deus, como aconteceu na vida do apóstolo, dos discípulos e de todos os que são chamados até o dia de hoje:

“Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.” (João 15:16)

Para muitos, é difícil acreditar na ideia de que Deus já definiu antecipadamente as coisas como elas ocorrerão, inclusive quanto àqueles que serão salvos.

Deus já sabia que o homem pecaria, por isso está escrito:

“E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.” (Apocalipse 13:8)

Ainda antes disso, Deus já havia nos elegido (escolhido):

“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;” (Efésios 1:4)

“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade;” (2 Tessalonicenses 2:13)

Como acreditar em livre arbítrio ou salvação por merecimento da carne?

“Não vem das obras, para que ninguém se glorie; Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” (Efésios 2:9-10)

“Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; Para que nenhuma carne se glorie perante ele.” (1 Coríntios 1:27-29)

Os eleitos jamais perderão a salvação, porque é Deus quem os justifica:

“Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.” (Romanos 8:33)

Porque é Deus quem os glorifica:

“E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.” (Romanos 8:30)

“Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo.” (1 Coríntios 15:10)

De forma que o salvo mantém-se na condição de salvo, não por que mereça isso, mas porque é preparado para isso, porque é capacitado e revestido para viver como um salvo:

“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;” (Filipenses 1:6)

“E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus nos chamou à sua eterna glória, depois de havemos padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoe, confirme, fortifique e estabeleça.” (1 Pedro 5:10)

Resumindo, ninguém é capaz de salvar a si mesmo e nem de merecer a salvação:

“E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se? Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis.” (Marcos 10:26-27)

O salvo produz bons frutos porque é transformado (preparado, capacitado) por Deus para isso. Deus tem o poder para refazer o vaso, porque Ele é como o oleiro (Jeremias 18).

Se nós recebemos o conhecimento da verdade, devemos agradecer a Deus por isso, e não questioná-lo, como fizeram alguns no passado:

“Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, Os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?” (Romanos 9:20-24)

Mesmo que uma pessoa seja predestinada para a salvação (escolhida desde antes da fundação do mundo), isso não significa necessariamente que essa pessoa não precise ouvir a pregação da Palavra de Deus, para que possa confessar o Senhor Jesus Cristo publicamente (Mateus 10:32, Romanos 10:9).

A alguns, Deus se revelou diretamente, como foi o caso de Abrão, Moisés e Saulo. Porém a outros, o faz por meio de sua Palavra eterna. Foi por isso que Ele deu a ordem “ide e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15).

Tudo o que Deus quer fazer, o faz por meio de sua Palavra:

“E disse Deus: Haja luz; e houve luz.” (Gênesis 1:3)

“Então me disse: Profetiza sobre estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor.” (Ezequiel 37:4)

“Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.” (Isaías 55:11)

É também por meio da Palavra que Deus que chama os seus escolhidos:

“Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.” (João 10:16)

Ouvirão a voz do Senhor porque o Senhor dará para eles “ouvidos para que ouçam” e esclarecimento dos mistérios do reino de Deus.

“E ele disse-lhes: A vós vos é dado saber os mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora todas estas coisas se dizem por parábolas, para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados.” (Marcos 4:11-12)

Livre arbítrio e predestinação são duas coisas que não podem conviver juntas. Ou o crente acredita num ou no outro, porém nunca nos dois.

E você, no que você acredita?

Comments

  1. Wesley de Freitas

    Se todos aqueles aos quais Deus concebeu a salvação estão predestinados a serem salvos independetes de suas ações, como se dizer que “mas não era um homem salvo, porque não possuía a fé para a salvação”, qual seria significancia dessa afirmação, não seria Paulo um homem salvo desde o princípio? Ou devemos “mudar” nossa forma de viver para sermos salvos? Embora que dessa forma não se sustentaria a predestinação.

    1. Post
      Author
      hubner.rocha

      Ótima observação! Reformulei a frase, pois Saulo era, na verdade, um salvo, embora ele ainda não soubesse. Por ser salvo, ele não morreria como um terrível perseguidor da igreja, mas sim como um servo do Senhor Jesus Cristo, a quem ele perseguia. Portanto agora ficou assim: “Saulo era um homem muito religioso, zeloso, mas não conhecia a verdadeira fé, por ainda não ter sido chamado pelo Senhor Jesus Cristo”.

      O predestinado será chamado para a fé em algum momento da vida e aceitará esse chamado, justamente por ser predestinado a isso. Isso aconteceu quando Jesus chamou o publicano Levi (Lucas 5:27)

      Quanto à forma de viver, é impossível que o eleito consciente de sua vocação e eleição não obtenha alguma mudança para melhor e uma mudança na sua forma de pensar (2 Coríntios 5:17). Ele mudará, não para ser salvo, mas porque é salvo. Mudará por agora ter consciência de sua eleição no Senhor. Porém se um crente eleito permanece no erro, por ser filho ele será punido (Hebreus 12:6), podendo mesmo ter o seu corpo destruído por causa do pecado, mas tendo ainda o espírito salvo por ser escolhido (1 Coríntios 5:5), embora com perda de galardão (2 João 1:8, 1 Coríntios 3:13-15). Como é o Espírito de Deus que convence o homem do pecado (João 16:8), Ele convencerá a todos os comprados pelo sangue do Cordeiro, ainda que na última hora de trabalho (Mateus 20:1-16).

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